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terça-feira, 4 de março de 2014

Odja força

Camarada ka morri
Camarada sta li
Na bô ku mi
Camarada ka corri

Odja força
Camarada sta li mé
Na mundo ki junta
Na gentis kê cria
Camaradas força!

Camaradas continua
Na luta...
Camaradas planos ka muda



O poema foi escrito para um amigo da Cova da Moura.
Descansa em paz, Avô.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

O grande concerto improvável

Na passada 6º feira ao cair da noite já se sentia o frio, o vento fazia barulho e as nuvens estavam gordas e carregadas a cinzento escuro. Cheirava-me a um grande temporal. A minha vontade de ir assistir um concerto no Bartô já estava a desaparecer. Mas a curiosidade ganhou: o flyer informava que seriam LBC, Hezbó MC e AYE-AYE num concerto improvável. Este último grupo, ao contrário dos outros dois artistas que são rappers da Cova da Moura, não conhecia mas sabia que era de estilo punk.

Caminhei nas ruas estreitas e grafitadas de Lisboa com a sorte de ainda não estar a chover. Finalmente, depois de muitas subidas e escadas senti-me a chegar ao pico. O Chapitô parece uma pequena aldeia de madeira com árvores, plantas, mesas com velas e uma iluminação suave. Desci umas escadas ao bar Bartô e avistei LBC e Hezbó MC ainda cá fora. Foi um descanso ao saber que ainda não tinham começado. Ainda deu para conversar um pouco.

Lá dentro sentia-se uma vibração positiva pelo ar. Assim que peguei na minha cerveja, a batida começou a entrar. Hezbó MC com o LBC começaram a rimar em crioulo. No mic rolavam palavras como "fight pa tchiga freedom". Conhecia algumas músicas e quando dava por mim já estava a cantar. Outros convidados apareceram com MOV-I que adoçou mais o ambiente. Quando pensei que já estavam a fechar a sessão chegou a grande surpresa: uma mistura com os AYE-AYE, o grupo punk. O improvável, mas possível encontro. A recepção foi forte e o improviso foi à altura. A música deixou-nos com um sabor na boca, a pedir que continuassem.

Os artistas foram abordados com cumprimentos ao sair do palco, até que os perdi de vista. Fiquei muito contente por ter experienciado uma ocasião de estilos diferentes, mas juntos numa música de protesto. O caminhar para casa foi feita com grande alegria e sem preocupações climáticas.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Histórias

De vez em quanto ainda peço à minha mãe para me contar algumas das suas histórias que passou em Lisboa. “Epá", diz ela, "nem imaginas o que passei no meu primeiro dia em Lisboa. Grávida de cinco meses e com três filhos não foi nada fácil. Aliás, foi um choque. Após várias tentativas notei que ninguém queria alugar-me um quarto. Não era devido à falta de quartos mas sim porque muitos senhorios não alugavam a Africanos na altura.  Desmoralizei com a situação. Mas graças a Deus apareceu uma Irmã da Santa Casa da Misericórdia que simpatizou-se comigo e com as crianças e foi aí que tive uma ajuda. Não sei o que seria de mim se isso não tivesse acontecido”.
     
“A situação era difícil”, continua o meu pai. “Também poucos que aguentavam pagar um aluguer devido à falta de trabalho e a baixos salários. Uma maneira de ter um tecto era comprar terrenos ilegais vendidos muitas vezes por agentes da GNR, como foi o meu caso. Tudo tem um preço, nha fidjo”, diz ele. “Falam muito das casas clandestinas mas não falam como foram adquiridas e nem do abuso que sofríamos todos os meses pela GNR que queria mesada. Se não déssemos, ameaçavam logo em deitar abaixo as nossas casas”, explica ele. “Os trabalhos eram a dias ou as obras. Era sem um dia de descanso porque incluía as obras da casa aos domingos”, diz exprimindo-se com o seu punho, como se estivesse a mostrar os sinais do trabalho duro.

Duro foi o efeito que teve na minha geração. Pouco era o apoio familiar devido a falta de tempo. Não haviam creches ou actividades que poderíamos frequentar. Vaguear nas ruas ficou um hábito. O refugio eram os amigos e o companheirismo que demonstravam. Por vezes não era a melhor opção, mas era o seguro e o familiar.

São tantas as histórias por aí mas precisam de ser ouvidas para continuarem vivas, prontas a serem divulgadas para a próxima geração. 

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Tenho um sonho

Ao entrar na Cova da Moura o retrato de Martin Luther King chama-me logo à atenção. Uma figura possante e marcante. Vários sentimentos ocorrem na minha cabeça e espalham pelo meu corpo. Penso no seu poder de liderança, no código de não-violência que apoiava, na persistência que tinha e nas maneiras que fazia protestos numa época muito racista. 

“I have a dream” foi a parte do discurso de Martin Luther King que gerou um sol radiante de esperança e alimentou as aspirações de milhares de pessoas nos Estados Unidos da América. Foi um discurso que veio ajudar a uma mudança política a favor de melhores condições para os negros. Imagino os olhos regalados, os ouvidos afinados e as emoções de todos aqueles que o assistiram.

Nesse mês de Agosto faz 50 anos desde que foi feito o discurso “I have a dream”. É importante relembrá-lo e continuar a passar a sua legacia para que fique presente na memória do povo. O sonho de Martin Luther King é de uma sociedade de igualdade, livre, justa e de irmandade. Todos nós herdámos a responsabilidade para continuar o seu trabalho.

Na Zona o retrato de Martin Luther King transmite uma mensagem dupla. Representa esperança mas ao mesmo tempo alerta que continua a haver pessoas que sofrem de injustiça e de discriminação. As pinturas dos Smurfs que agora o rodeiam desviam e menorizam o que ele realmente representa.

A luta continua…