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quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Fitcha coragi e busca vida

"Olha as batatas, olha as batatas!"
Esse é o grito de alerta aos sábados de manhã do vendedor na sua carrinha. As donas de casa reconhecem-no e de imediato saem lá para fora caso precisem de abastecer o cesto dos vegetais.
"É barato, já agora leve o azeite e a garrafa de vinho, faço a um preço de amigo", diz o vendedor e o cliente pergunta se não quer abaixar mais um pouco.

Pouco de pois aparece outra carrinha desta vez a buzinar. É a vendedora dos ovos e das galinhas. Naquele instante a rotina se repete. Todos os vendedores sabem que há sempre uma possibilidade de fechar um bom negócio e o cliente pensa o mesmo. Essa é a essência de mercado de rua no meu bairro.

Eu me lembro que nos anos 80 a banana era uma relíquia. A minha mãe não as comprava porque eram muito caras. Todavia aparecia lá no bairro de vez em quanto vendedores com caixas de bananas. Elas eram moles mas os preços eram baixos.  Cativava-me aquele aroma bastante agradável e tinham um aspecto delicioso. A minha mãe aproveitava a oportunidade e comprava. A partir daquele momento eu passava a ser o monstro das bananas.

Mas também é normal encontrar nos bairros as pessoas locais a fazer o seu business. E não estou a falar de venda de droga. Hà a dona Dóka, a vendedora de frutas e vegetais, o sítio mais provável de encontrar a mandioca; a nha Póla vendedora do bom tabaco, que livra das horríveis constipações; o desenrasca do Cabeçada que passa a vida a consertar tudo e mais alguma coisa, que é muito popular pela sua disponibilidade e esforço.

Assim, o povo toma conta do seu próprio destino. "Fitcha coragi e busca vida", essa é a regra.

domingo, 18 de agosto de 2013

O puto

Me lembro que gostava muito de jogar a bola com os mais velhos lá da minha rua. Isso fazia-me sentir valorizado. O campo era a estrada, logo à frente das nossas casas. Os veículos circulavam com velocidade, quer de baixo ou de cima. Mas a malta assim que ouvia o barulho de um motor, parava logo o jogo. Parecia natural sentir a vir o perigo.

Estar com as mãos no chão era normal e sabia bem. Ora era jogar ao pião, à malha ou ao berlinde. Este último era um dos meus preferidos. Toda a rapaziada da zona desafiava -se entre eles. Os mais graúdos tentavam sempre jogar com os mais novos para acumular o máximo de berlindes e juntar à colecção. Eu fazia de tudo para não enfrentá-los mas às vezes era impossível escapar aos desafios e as apostas.


















Os carros era uma paixão minha, quase todos que passavam a rasgar na estrada gritava eu "Kel la é di meu".  Isso ajudou para criação de carros de caixas de fruta e madeira. Para mim eram ocasiões especiais. Sentia uma adrenalina enorme ao descer pela rua abaixo no meu carro. Por vezes fazíamos corridas com um final sem troféu mas com um sorriso gigantesco. As derrapagens e as curvas que levantavam poeira era uma maneira de exibir e mostrar controlo total do veículo. Às vezes lá surgia o descontrolo e as tombas. Tinha outros amigos que construíam viaturas de arame e lata que também era cool, e artístico.

Outras coisas que fazia era correr para todo o lado com aros de bicicleta ou pneus encontrados no lixo. Para mim era uma simulação de uma mota, na minha cabeça imaginária. Os para-choques dos carros abatidos que encontrava eram a minha canoa para deslizar numa descida de terra qualquer. Naquela época ser criativo era importante porque brinquedos não tinham. Ali tudo se transformava.