terça-feira, 4 de março de 2014

Odja força

Camarada ka morri
Camarada sta li
Na bô ku mi
Camarada ka corri

Odja força
Camarada sta li mé
Na mundo ki junta
Na gentis kê cria
Camaradas força!

Camaradas continua
Na luta...
Camaradas planos ka muda



O poema foi escrito para um amigo da Cova da Moura.
Descansa em paz, Avô.

domingo, 2 de março de 2014

Uma tarde no Coqueiro

O sábado levou-me até ao Coqueiro. É o café que nesses dias nunca falha música tradicional caboverdiana ao vivo. Sabia que o lugar proporcionaria uma boa tarde. "Dan kel café ku kel ponche, mano", disse ao meu amigo no outro lado do balcão. Os artistas tocavam com os seus instrumentos produzindo um som melódico. Éramos poucas pessoas naquela altura mas assim que o ritmo aqueceu, a música tornou-se num cheiro aromático atraente que de certeza viajou longe.

Mais pessoas e artistas apareceram. De repente esses mesmos artistas subiam ao palco sem problemas, como membros de uma grande família que aí estava, e cantavam uma ou duas músicas. O espaço ficou ainda mais animado e parecia que todos conheciam-se uns aos outros. A música mais uma vez fez maravilhas e juntou uma comunidade. Os pastéis de peixe e os torresmos saíram da cozinha. E como cheiro bom dá fome, foram muito populares.

Sai cá fora para arejar um bocado e falar com alguns amigos no pátio, quando uma carrinha da polícia aproximava lentamente. A primeira pensei que estavam a fazer uma simples rotina ao meio da tarde. Mas obviamente que não, nunca existiu uma simples rotina na Cova da Moura. Que tolice a minha. A carrinha estava cheia de polícias equipados com armas de fogo com a intenção de as mostrar a todos. Até consegui imaginar o resto que não era possível ver. Nesta prática passaram duas, passaram três vezes. Cada uma delas com gestos notórios de intimidação. Um caqueirada na cabeça, como dizemos em crioulo. Significa pancada na cabeça para aprender. 

Acabei por entrar no café para assistir mais um pouco da música. O guitarrista que decidiu animar mais com um show off a Jimi Hendrix até tocava com os dentes. Algumas pessoas dançavam enquanto outras observavam os músicos, como entendedores da arte.

No regresso vi crianças a brincar na estrada. Umas estavam a saltar a corda, outras a cantar. Depois surgiu um puto a correr por de traz de mim. "Pow, pow, pow!", gritou apontando uma arma imaginária. Recapitulei o que se passou naquele dia com a carrinha de polícias.