O mano Azagaia lançou o seu último álbum Cubaliwa (nascimento), então aproveito esta ocasião para falar um pouco do rap moçambicano.
Lembro-me umas das primeiras conversas que tive em Maputo: "Aqui é tudo underground. The real underground", reafirmava um amigo mc que conheci do bairro Triunfo. "Não vês o que nos rodeia? É tudo a dinheiro vivo, é o único país que não pagas nada com cartão multibanco. É tudo cash, man. Olha o negócio aqui, é só boladas. O rap moz é para alertar as pessoas das condições em que vivemos, da corrupção que existe, do abuso do poder que tem, da verdadeira realidade."
Mozambique é para mim um lugar maravilhoso mas nunca imaginei que tivesse uma tão forte massa de seguidores de música rap. Fiquei surpreso também pelas várias iniciativas que os próprios rappers fazem para promover os seus trabalhos pelo país. Entre as minhas paragens na cidade de Maputo assisti a workshops, concertos, palestras nas escolas e universidades. A maioria dos lugares que andava ou frequentava a música que tocavam era o rap, especialmente o nacional. O que mais batia era o rap revolucionário que reflecte a realidade que povo vive.
O rap é tão influente que até parece perturbar o governo. Há artistas, como Azagaia e Tira Teimas, que tiveram problemas, mas pela adesão do povo foi impossível os parar. Em Moçambique não é fácil ser artista mas em contrapartida és um herói do povo se o rap for consciente.
"O rap aqui é sem censuras, é desabafar", diz-me um outro mc, do bairro Laulane. "É permanecer sempre underground com os pés bem assentes no chão. Aqui as condições são poucas mas ninguém nos pode calar."
Então vai aí um cumprimento ao rap moçambicano.
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terça-feira, 26 de novembro de 2013
quarta-feira, 25 de setembro de 2013
Histórias
De vez em quanto ainda peço à minha mãe para me contar algumas
das suas histórias que passou em Lisboa. “Epá", diz ela, "nem
imaginas o que passei no meu primeiro dia em Lisboa. Grávida de cinco meses e
com três filhos não foi nada fácil. Aliás, foi um choque. Após várias
tentativas notei que ninguém queria alugar-me um quarto. Não era devido à falta de quartos mas sim porque muitos senhorios não alugavam a Africanos
na altura. Desmoralizei com a
situação. Mas graças a Deus apareceu uma Irmã da Santa Casa da Misericórdia que simpatizou-se
comigo e com as crianças e foi aí que tive uma ajuda. Não sei o que seria de mim se
isso não tivesse acontecido”.
“A situação era difícil”, continua o meu pai. “Também poucos que aguentavam
pagar um aluguer devido à falta de trabalho e a baixos salários. Uma maneira de ter um tecto era comprar terrenos ilegais vendidos muitas vezes por agentes da GNR, como foi o meu caso. Tudo tem um preço, nha fidjo”, diz ele. “Falam muito das
casas clandestinas mas não falam como foram adquiridas e nem do abuso que
sofríamos todos os meses pela GNR que queria mesada. Se não déssemos, ameaçavam logo em
deitar abaixo as nossas casas”, explica ele. “Os trabalhos eram a dias ou as
obras. Era sem um dia de descanso porque incluía as obras da casa aos domingos”, diz exprimindo-se com o seu punho, como se estivesse a mostrar
os sinais do trabalho duro.
Duro foi o efeito que teve na minha geração. Pouco era o apoio familiar devido a falta de tempo. Não haviam creches ou actividades
que poderíamos frequentar. Vaguear nas ruas ficou um hábito. O refugio eram os amigos e o companheirismo que
demonstravam. Por vezes não era a melhor opção, mas era o seguro e o familiar.
São tantas as histórias por aí mas precisam de ser ouvidas para continuarem vivas, prontas a serem divulgadas para a próxima geração.
quarta-feira, 4 de setembro de 2013
Fitcha coragi e busca vida
"Olha as batatas, olha as batatas!"
Esse é o grito de alerta aos sábados de manhã do vendedor na sua carrinha. As donas de casa reconhecem-no e de imediato saem lá para fora caso precisem de abastecer o cesto dos vegetais.
"É barato, já agora leve o azeite e a garrafa de vinho, faço a um preço de amigo", diz o vendedor e o cliente pergunta se não quer abaixar mais um pouco.
Pouco de pois aparece outra carrinha desta vez a buzinar. É a vendedora dos ovos e das galinhas. Naquele instante a rotina se repete. Todos os vendedores sabem que há sempre uma possibilidade de fechar um bom negócio e o cliente pensa o mesmo. Essa é a essência de mercado de rua no meu bairro.
Eu me
lembro que nos anos 80 a banana era uma relíquia. A minha mãe não as comprava porque eram muito caras. Todavia aparecia lá no bairro de vez em quanto
vendedores com caixas de bananas. Elas eram moles mas os preços eram baixos. Cativava-me aquele aroma bastante agradável e tinham um aspecto delicioso. A minha mãe aproveitava a oportunidade e comprava. A partir
daquele momento eu passava a ser o monstro das bananas.
Mas também é normal encontrar nos bairros as pessoas locais a fazer o seu business. E não estou a falar de venda de droga. Hà a dona Dóka, a vendedora de frutas e vegetais, o sítio mais provável de encontrar a mandioca; a nha Póla vendedora do bom tabaco, que livra das horríveis constipações; o desenrasca do Cabeçada que passa a vida a consertar tudo e mais alguma coisa, que é muito popular pela sua disponibilidade e esforço.
Assim, o povo toma conta do seu próprio destino. "Fitcha coragi e busca vida", essa é a regra.
Mas também é normal encontrar nos bairros as pessoas locais a fazer o seu business. E não estou a falar de venda de droga. Hà a dona Dóka, a vendedora de frutas e vegetais, o sítio mais provável de encontrar a mandioca; a nha Póla vendedora do bom tabaco, que livra das horríveis constipações; o desenrasca do Cabeçada que passa a vida a consertar tudo e mais alguma coisa, que é muito popular pela sua disponibilidade e esforço.
Assim, o povo toma conta do seu próprio destino. "Fitcha coragi e busca vida", essa é a regra.
domingo, 11 de agosto de 2013
Um lugar que chamamos de casa
Quando falo de casa,
falo de um lugar de descanso. É como um barco atracado no cais depois de muitas
agitações no alto mar. Ou o peito da Mamã aonde o bebé adormece depois de amamentar. Um lugar tranquilo e seguro. A minha zona, Cova da Moura,
é esse lugar para mim.
Todos nós emigrantes ou imigrantes temos as nossas razões de
sair do lugar aonde nós gostamos. Mas é sempre bom regressar as origens e se
sentir em casa. Ouvir o funaná do vizinho, comer um gelado caseiro de Dona
Noti, sentar com os amigos no Largo da Bola ou na Rua Principal e vaguear nos
becos.
Eu tenho a sorte de ter um lugar aonde voltar. Mas nem todos têm esse privilégio. Muitos bairros foram destruídos e os moradores foram realojados para outras áreas desconhecidas. A uns nem casa deram para orientarem á vida. Perderam o seu pedaço de terra, se assim posso dizer.
Nem imagino os vazios que sentiram e a desorientação que
tiveram. Comunidades foram dispersas. Distanciaram famílias, amigos e vizinhos.
Não foi só uma perda de morada, mas também de identidade.
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